17/01/2015

A História de Arwen e Aragorn - Parte II

Arwen & Aragorn

  Nos dias que se seguiram, Aragorn ficou calado, e sua mãe percebeu que algo estranho lhe acontecera; por fim ele cedeu às perguntas dela e contou-lhe sobre o encontro na meia-luz do bosque.
  “- Meu filho- disse Gilraen -, sua ambição é grande, mesmo para um descendente de muitos reis. Pois esta senhora é a mais bela e a mais nobre que agora pisa sobre a terra. E não é adequado que os mortais se casem com alguém do povo élfico.
 “- Mesmo assim, nós temos algum parentesco – disse Aragorn -, se for verdadeira a história que me foi contada sobre meus antepassados.
-é verdade – disse Gilraen -, mas isso foi há muito tempo e numa outra era deste mundo, antes que nossa raça fosse diminuída. Portanto sinto-me receosa, pois sem a boa vontade do mestre Elrond os herdeiros de Isildur logo chegarão ao fim. Mas não julgo que você consiga a boa vontade de Elrond nesse assunto.
 - Então amargos serão meus dias, e eu caminharei nas terras ermas sozinho – disse Aragorn.
 - Essa realmente será o seu destino – disse Gilraen, mas, embora ela tivesse um pouco do poder de previsão do seu povo, não lhe disse mais nada sobre o seu pressentimento, nem comentou com ninguém sobre o que o filho lhe dissera. 
 Mas Elrond via muitas coisas e decifrava muitos corações. Um dia, antes do final do ano, ele chamou Aragorn ao seu aposento e disse: - Aragorn, filho de Arathorn, Senhor dos Dúnedain, ouça-me! Um grande destino o aguarda: elevar-se acima de todos os seus antepassados desde os dias de Elendil, ou então cair na escuridão com tudo o que resta de sua estirpe. Muitos anos de provações estendem-se diante de você. Você não deve ter uma esposa, nem assumir compromisso com qualquer mulher, até que seu tempo chegue e que você seja considerado digno disso.
 “Então Aragorn ficou perturbado, e disse: - Será que minha mãe mencionou algo sobre esse assunto?
 “- Não, não mencionou nada – disse Elrond. – Seus próprios olhos o traíram. Mas não estou falando apenas de minha filha. Você ainda não deve comprometer-se com a filha de homem algum. Mas quanto a Arwen, a Bela, Senhora de Imladris e de Lórien, Estrela Vespertina de seu povo, ela é de linhagem superior à sua, e já viveu neste mundo tanto tempo que para ela você não passa de um terno broto ao lado de uma bétula jovem de muitos verões. Ela está muito acima de você. E também acho provável que ela pense assim. Mas mesmo se não for o caso, e o coração dela se voltasse na direção do seu, eu me sentiria triste por causa do destino que nos foi imposto.
 “-Que destino é esse? – perguntou Aragorn.
 “- Que, enquanto eu permanecer aqui, ela viverá com a juventude dos eldar – respondeu Elrond – e, quando eu partir ela irá comigo, se assim escolher.
 “- Estou vendo – disse Aragorn – que fixei meus olhos num tesouro não menos precioso que o de Thingol, desejado outrora por Beren. Este é meu destino. – Então, de súbito, o poder de previsão de seu povo aflorou-se na mente, e ele disse: - Mas veja, mestre Elrond! Os anos de sua permanência estão chegando ao fim, e a escolha logo deverá ser imposta aos seus filhos, a escolha de se separarem ou do senhor ou da Terra-média.
 “– É verdade – disse Elrond, - Logo, pelos nossos cálculos, embora muitos anos dos homens ainda devam se passar. Mas não haverá escolha para Arwen, minha amada filha, a não ser que você, Aragorn, filho de Arathorn, se coloque entre nós e faça com que um de nós dois, você ou eu, sofra uma separação amarga, que ultrapassará o fim do mundo. Você ainda não compreende o que deseja de mim. – Elrond suspirou e depois de um tempo, olhando gravemente para o jovem, disse outra vez: - Os anos trarão o que devem trazer. Não vamos falar mais nisso ate que muitos se tenham passado. Os dias estão escurecendo, e muito está por vir.

 “Então Aragorn despediu-se carinhosamente de Elrond, e no dia seguinte disse adeus à mãe, e às pessoas da casa de Elrond, e a Arwen, partindo para os ermos. Por quase trinta anos trabalhou na causa contra Sauron, e tornou-se amigo de Gandalf, o Sábio, do qual ganhou muita sabedoria. Com ele fez muitas viagens perigosas, mas enquanto os anos se passavam viajava sozinho com mais freqüência. Seus caminhos eram longos e difíceis, e ele assumiu uma aparência rústica, a não ser quando casualmente sorria; mesmo assim os homens o consideravam dignos de honra, como um rei no exílio, nos momentos em que ele não escondia sua verdadeira aparência. Pois ele circulava sob muitos disfarces, e obteve fama sob muitos nomes. Cavalgou com o exército dos rohirrim, lutou para o Senhor de Gondor por terra e mar depois, na hora da vitória, desapareceu para não ser mais visto pelos homens do oeste, e viajou pelo distante leste e pelas profundezas do sul, explorando os corações dos homens, bons e maus, e revelando os planos e as estratégias dos servidores de Sauron.
 “Assim acabou se tornando o mais resistente dos homens vivos, habilidoso em seus ofícios e erudito nas suas tradições, e apesar disso era mais do que eles; pois tinha a sabedoria dos elfos, e havia uma luz em seus olhos que, quando se acendia, poucos podiam suportar. Seu rosto era triste e austero por causa do destino que lhe fora imposto, e apesar disso a esperança sempre morou nas profundezas de seu coração, do qual a às vezes jorrava como uma fonte que jorra de uma rocha.


- O Retorno do Rei – Apêndice I – Anais dos Reis e Governantes: v – Aqui segue-se uma parte da história de Aragorn e Arwen

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