“E quando Valinor estava pronta,
as mansões dos Valar, instaladas no meio da planície do outro lado das
montanhas, eles construíram sua cidade, Valmar de muitos sinos. Diante de seu
portão ocidental, havia uma colina verdejante, Eellohar, que também é chamada
de Corollairë; Yavanna a consagrou, e ficou ali sentada muito tempo sobre a
relva verde, entoando uma canção de poder, na qual expunha o que pensava sobre
as coisas que crescem na terra. Nienna, porém, meditava calada e regava o solo
com lágrimas. Naquele momento, os Valar, reunidos para ouvir o canto de
Yavanna, estavam sentados, em silêncio, em seus tronos do conselho de
Máhanaxar, o Círculo da Lei junto aos portos dourados de Valmar; e Yavanna
Kementári cantava diante deles, e eles observavam.
E, enquanto olhavam, sobre as
colinas surgiram dois brotos esguios; e o silêncio envolveu todo o mundo
naquela hora, nem havia nenhum outro som que não o canto de Yavanna. Em
obediência a seu canto, as árvores jovens cresceram e ganharam beleza e altura;
e vieram a florir; e assim, surgiram no mundo as Duas Árvores de Valinor. De
tudo o que Yavanna criou, são as mais célebres, e em torno de seu destino são
tecidas todas as histórias dos Dias Antigos.
Uma tinha folhas verde-escuras,
que na parte de baixo eram como prata brilhante; e de cada uma de suas inúmeras
flores caía sem cessar um orvalho de luz prateada; e a terra sob sua copa era
manchada pelas sombras de suas folhas esvoaçantes. A outra apresentava folhas
de um verde viçoso, como o da faia recém-aberta, orladas de um dourado
cintilante. As flores balançavam nos galhos em cachos de um amarelo flamejante,
cada um na forma de uma cornucópia brilhante, derramando no chão uma chuva
dourada. E da flor daquela árvore emanavam calor e uma luza esplêndida.
Telperion, a primeira, era chamada em Valinor, e Silpion, e Niquelótë, entre
muitos outros nomes; mas Laurelin era a outra, e também Malinalda e Culúrien,
entre muitos outros nomes poéticos.
Em sete horas, a glória de cada
árvore atingia a plenitude e voltava novamente ao nada; e cada uma despertava
novamente para a vida uma hora antes de a outra deixar de brilhar. Assim, em
Valinor, havia uma hora suave de uma luz mais delicada, quando as duas árvores
estavam fracas e seus raios prateados e dourados se fundiam. Telperion era a
mais velha das árvores e chegou primeiro à sua plena estatura e florescimento;
e aquela primeira hora que brilhou, com o bruxulear pálido de uma alvorada de
prata, os Valar não incluíram na história das horas, mas denominaram a Hora
Inaugural, e a partir dela passaram a contar o tempo de seu reinado em Valinor.
Portanto, à Sexta hora do Primeiro Dia, e de todos os dias jubilosos que
surgiram, até o Ocaso de Valinor, Telperion interrompia sua vez de florir; e na
décima segunda hora, era Laurelin que o fazia.”
O Silmarillion – Quenta
Silmarillion – Do início dos tempos – página 31 e 32