04/11/2014

"Bom Dia"- O Inicio de uma grande aventura, muito inesperada

"Tudo o que Bilbo, sem suspeitar de nada, viu naquela manhã foi um velho com um cajado. Usava um chapéu azul, alto e pontudo, uma capa cinzenta comprida, um cachecol prateado sobre o qual sua longa barba branca caía até abaixo da cintura, e imensas botas pretas.
- Bom dia! - disse Bilbo, sinceramente. O sol brilhava, e a grama estava muito verde. Mas Gandalf lançou-lhe um olhar por baixo de suas longas e espessas sobrancelhas, que se projetava da sombra da aba do chapéu.
- O que você quer dizer com isso? - perguntou ele. - Etá me desejando um bom dia, ou quer dizer que o dia está bom, não importa o que eu queira ou não , ou quer dizer que você se sente bem neste dia, ou que este é um dia para estar bem?
-Tudo isso de uma vez - disse Bilbo.- E uma manhã muito agradável para fumar um cachimbo ao ar livre, além disso. Se você tiver um cachimbo com você, sente-se e tome um pouco do meu fumo! Não há pressa, temos o dia todo pela frente! - E então Bilbo se sentou numa cadeira à sua porta, cruzou as pernas e soprou um belo anel de fumaça cinzento que se ergueu no ar sem se desmanchar e foi flutuando sobre a Colina.
- Muito bonito! - disse Gandalf. - Mas eu não tenho tempo para soprar anéis de fumaça esta manhã. Estou procurando alguém para participar de uma aventura que estou organizando, e está muito difícil achar alguém.
- Acho que sim, por estes lados! Nós somos gente simples e acomodada, e eu não gosto de aventuras. São desagradáveis e desconfortáveis! Fazem com que você se atrase para o jantar! Não consigo imaginar o que as pessoas veem nelas - disse o nosso Sr. Bilbo Bolseiro, colocando um polegar atrás dos suspensórios e soprando outro anel de fumaça ainda maior. Depois pegou sua correspondência matinal e começou a lê-la, fingindo não prestar mais atenção ao velho. Havia decidido que não era do tipo que o agradava e queria que ele fosse embora. Mas o velho não se mexeu. Ficou parado, apoiando-se no seu cajado, observando o hobbit sem dizer nada, até que Bilbo se sentiu meio embaraçado, e até um pouco contrariado.
- Bom dia! disse ele finalmente. - Nós não queremos aventuras por aqui, obrigado! Você podia tentar além da Colina ou do outro lado do água. - Com isso quis dizer que a conversa estava terminada.
- Você usa Bom dia para um monte de coisas! - disse Gandalf. - Agora já está querendo dizer que quer se livrar de mim e que o dia não ficará bom até que eu vá embora.
- De jeito nenhum, de jeito nenhum, caro senhor! Deixe-me ver, acho que não sei o seu nome.
- Sim, sim, meu caro senhor, e eu sei o seu, Sr. Bilbo Bolseiro. E você sabe o meu nome, embora não se lembre de que ele se refere a mim. Eu sou Gandalf, e Gandalf significa eu! E pensar que eu viveria para escutar um "Bom dia" do filho de Beladona Tûk como se fosse um simples mascate que bate de porta em porta!
- Gandalf, Gandalf! Puxa vida! Não o mago errante que deu ao Velho Tûk um par de abotoaduras de diamante que se abotoavam e nunca se saltavam até que fosse ordenado? Não o camarada que costumava contar histórias maravilhosas nas festas, sobre dragões, orcs e gigantes e sobre resgates de princesas e sobre a sorte inesperada de filhos de viúvas? Não o homem que costumava fazer fogos de artifício especialmente maravilhosos! Eu me lembro deles! O Velho Tûk costumava solta-los na véspera do Solstício de Verão.Esplêndido! Eles subiam como grandes lírios e bocas-de-leão e laburnos de fogo, ficavam no céu durante todo o entardecer! - Vocês já devem ter notado que o Sr. Bolseiro não era tão prosaico como queria acreditar que fosse, e também que gostava muito de flores.
- Ora, ora!- continuou ele. - Não o Gandalf que foi responsável por tantos moços e moças tranquilos partirem em loucas aventuras? Qualquer coisa, desde subir em árvores até visitar elfos, ou navegar em navios, navegar para outras praias! Puxa! A vida costumava ser muito interessan... quero dizer, você costuma perturbar muito as coisas por essas banda naquela época. Eu peço desculpa, mas não imaginava que ainda estava na ativa.
- Onde mais eu poderia estar? - disse o mago. -De qualquer forma, estou satisfeito de saber que você se lembra de alguma coisa a meu respeito. Parece que a lembrança dos meus fogos de artifício, pelo menos, lhe é agradável, e isto já é alguma coisa. Mas em memória do seu velho avô Tûk e de sua mãe Beladona, darei o que você me pediu.
- Peço desculpas, mas não pedi nada!
- Você pediu sim, duas vezes agora. Desculpas. Está desculpado. Na verdade, vou além disso, vou mandá-lo nessa aventura. Muito divertido para mim, muito bom para você... e lucrativo também, muito provavelmente, se você conseguir chegar até o fim.
- Sinto muito! Eu não quero aventuras, muito obrigado. Hoje não. Bom dia! Mas, por favor, venha tomar chá, a qualquer hora que quiser! Por que não amanhã? Venha amanhã! Até logo! -Com isso o Hobbit se virou e entrou por sua porta redonda e verde e a fechou o mais rápido que era possível sem parecer rude. Afinal de contas, magos são magos.
- Por que raios eu o convidei para o chá!? - perguntou para si mesmo, enquanto ia para a despensa. Tinha acabado de tomar o desjejum, mas achou que um pedaço de bolo ou dois, e um gole de alguma coisa, lhe fariam bem depois do susto."

__O Hobbit - Uma Festa Inesperada 




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