03/04/2015

Bilbo entrega a Pedra Arken á Bard e ao Rei Élfico

Thranduil, o Rei Élfico; Bilbo e Bard
"(...) cerca de duas horas após sua fuga pelo Portão, Bilbo estava sentado ao pé de um fogueira acolhedora, diante de uma grande tenda, e ali também estavam sentados, fitando-o curiosamente, o Rei Élfico e Bard. Um hobbit trajando armaduras élficas, parcialmente embrulhado num cobertor velho era um espetáculo novo para eles.
  - Realmente, vocês sabem - Bilbo dizia, no seu melhor estilo comercial -, as coisas estão impossíveis. Pessoalmente, estou cansado da coisa toda. Gostaria de poder voltar para o oeste, para minha própria casa, onde as pessoas são mais sensatas. Mas tenho um interesse neste assunto - um quatorze avos do tesouro, para ser preciso, de acordo com uma carta que, felizmente, acredito ter guardado. - Ele retirou do bolso de seu velho casaco (que ainda usava sobre a cota de malha), amarfanhada e muito dobrada, a carta de Thorin, que fora colocada embaixo do relógio, em cima da lareira, em maio!
  - Uma parte dos lucros, vejam bem - continuou. - Estou ciente disso. De minha parte estou inteiramente disposto a considerar com cuidado todas as suas exigências e deduzir do total o que é justo antes de tirar a minha própria parte. Contudo, vocês não conhecem Thorin Escudo de Carvalho tão bem quanto eu o conheço agora. Asseguro-lhes, ele está disposto a ficar sentado sobre um monte de ouro e passar fome, enquanto vocês permanecem aqui.
 - Pois bem, que faça isso! - disse Bard. - Tamanho tolo merece passar fome.
 - É verdade - disse Bilbo. - Entendo o seu ponto de vista. Ao mesmo tempo, o inverno está chegando depressa. Logo terão neve, e tudo mais, e as provisões serão um problemas, mesmo para os elfos, imagino eu. Além disso, haverá outras dificuldades. Nunca ouviram falar de Dain e dos anões das Colinas de Ferro?
  - Ouvimos, há muito tempo; mas o que ele tem a ver conosco? - perguntou o rei.
  - É o que eu pensava. Percebo que tenho muitas informações que vocês não têm. Dain, posso lhes assegurar, está agora a menos de dois dias de marcha daqui, trazendo consigo pelo menos quinhentos bravos anões; grande parte deles teve experiência nas terríveis guerras entre anões e orcs, das quais com certeza vocês já ouviram falar. Quando chegarem, podem haver problemas terríveis.
  - Por que está nos contando isso? Está traindo seus amigos ou nos ameaçando? - perguntou Bard num tom sinistro.
  - Meu caro Bard! - retorquiu Bilbo. - Não seja tão precipitado! Nunca conheci pessoas tão desconfiadas! Estou apenas tentando evitar problemas para todos. Agora, farei uma oferta!
  -Vamos ouvi-la! - disseram eles.
  - Vocês podem vê-la! - disse ele. - É isto! - e exibiu a Pedra Arken, jogando fora os trapos que a embalavam.
 O próprio Rei Élfico, cujos olhos estavam acostumados a coisas belas e maravilhosas, levantou-se estupefato. Até Bard a contemplava, maravilhado, em silêncio. Era como se um globo repleto de luar pendesse diante deles numa rede tecida com o brilho das estrelas geladas.
  - Esta é a Pedra Arken de Thrain - disse Bilbo -, o Coração da Montanha, e é também o coração de Thorin. Ele dá mais valor a ela do que a um rio de ouro. Vou dá-la a vocês. Pode ajudar nas negociações. - Então, Bilbo, não sem um estranhamento, nem sem um olhar de cobiça, entregou a maravilhosa pedra a Bard, que a segurou na mão aturdido.
  - Mas isto lhe pertence para que possa dar? - perguntou ele finalmente, com esforço.
  - Ah, sim! - disse o hobbit, incomodado. - Não exatamente, mas estou disposto a penhorá-la em troca de toda a minha parte, não percebem? Posso ser um ladrão, pelo menos é o que eles dizem: pessoalmente, nunca achei que fosse, mas sou um ladrão honesto, eu acho, mais ou menos. De qualquer forma, vou voltar agora, e os anões poderão fazer o que quiserem comigo. Espero que a Pedra lhes seja útil.
  O Rei Élfico olhou para Bilbo com nova surpresa. - Bilbo Bolseiro! - disse. - Você é mais digno de usar as armaduras dos príncipes élficos do que muitos que ficaram mais garbosos com elas. Mas duvido que Thorin Escudo de Carvalho pense da mesma forma. Talvez eu tenha mais conhecimento que você sobre anões em geral. Aconselho que permaneça conosco, e aqui será honrado e três vezes bem-vindo.
- Fico imensamente grato, com certeza - disse Bilbo, fazendo uma reverência. - Mas não acho que deva abandonar meus amigos assim, depois de tudo pelo que passamos juntos. E, além disso, prometi acordar o velho Bombur à meia-noite! Realmente preciso ir, e depressa! 
 Nada que pudessem dizer iria detê-lo; assim, providenciaram para ele uma escolta e, no momento em que partiu, tanto o rei como Bard prestaram-lhe homenagem. Quando atravessou o acampamento, um velho, embrulhado numa capa escura, levantou-se da porta de uma tenda onde estava sentado e foi na direção deles. 
  - Muito bem! Sr. Bolseiro! - disse ele, batendo nas costas de Bilbo. - Você sempre demonstra ser mais do que se espera! - Era Gandalf.
  Pela primeira vez em muitos dias Bilbo sentiu-se realmente feliz. Mas não havia tempo para todas as perguntas que imediatamente quis fazer.
  - Tudo em seu tempo! - disse Gandalf. - Agora as coisas se aproximam do fim, a não ser que eu esteja enganado. Há coisas desagradáveis à sua espera, mas mantenha a coragem! Pode ser que você se saia bem. Há notícias a caminho que nem os corvos conhecem. Boa noite!"

O Hobbit, Um Ladrão na noite, pgs. 262, 263 e 264.

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