10/12/2014

Os Drúendain – Parte II

Os eldar os chamavam de drúendain, admitindo-os na classe dos atani, pois forma muito amados enquanto duraram. Ai deles! Não tinham vida longa e sempre foram poucos, tendo suas perdas sido pesadas na contenda com os orcs, que retribuíram seu ódio e se deleitavam em capturá-los e torturá-los. Quando as vitórias de Morgoth destruíram todos os reinos e baluartes dos elfos e dos homens em Beleriand, diz-se que haviam minguado, restando apenas algumas famílias, mormente de mulheres e crianças, algumas das quais foram ter com os últimos refugiados nas Fozes do Sirion.
Nos tempos de outrora, haviam sido de grande valia àqueles entre quem viviam, e eram muito requisitados; porém poucos chegaram a abandonar a terra do Povo de Haleth. Tinham uma maravilhosa habilidade para seguir a pista de todas as criaturas viventes e ensinavam aos amigos o que pudessem de seu ofício. Mas seus pupilos não os igualavam, pois os drúedain usavam o faro como cães, só que também, só que também tinham a visão aguçada. Gabavam-se de ser capazes de farejar um orc a favor do vento mais longe do que outros homens conseguiam ver, e podiam seguir seu rastro por semanas, exceto através da água corrente. Seu conhecimento de todas as coisas que crescem era quase igual ao dos elfos (porém não ensinado por estes); e diz-se que, quando se mudavam para uma nova região, em pouco tempo conheciam todas as coisas que cresciam grandes ou diminutas, e davam nomes àquelas que lhes eram novas, distinguindo as venenosas e as úteis para a alimentação.
Os drúedain, assim como os demais atani, não tinham forma de escrita até encontrarem os eldar. Não chegaram mais perto da escrita, pela sua própria invenção, do que o uso de uma série de sinais, simples na maior parte, para marcar trilhas ou dar informações e avisos. No passado remoto, parece que já possuíam pequenos implementos de sílex para raspar e cortar, e ainda os usavam, pois, embora os atani conhecessem metais e alguma arte da forja antes de chegarem a Beleriand, os metais eram difíceis de conseguir e as armas e ferramentas forjadas eram muito custosas. Mas quando, em Beleriand, pela associação com os eldar e o comércio com os anões de Ered Lindon, tais objetos se tornaram mais comuns, os drúedain demonstraram grande talento para o entalhe em madeira ou pedra. Já tinham conhecimento de pigmentos, principalmente derivados de plantas, e desenhavam figuras e motivos na madeira ou em superfícies planas de pedra; e às vezes raspavam nós de madeira para formar rostos que podiam ser pintados. Mas com ferramentas mais afiadas e mais fortes deleitavam-se em esculpir figuras de homens  e animais, fossem brinquedos e ornamentos, fossem imagens grandes, às quais os mais habilidosos dentre eles conseguiam imprimir um vigoroso aspecto de vida. Às vezes essas imagens eram estranhas e fantásticas, ou mesmo,terríveis: entre as brincadeiras cruéis em que empregavam sua habilidade estava a feiúra de formas de orcs que punham nas fronteiras da região, com aspecto de quem está fugindo dali, uivando de terror. Também faziam imagens de si próprios e as colocavam nas entradas de trilhas ou nas curvas de caminhos na floresta. Chamavam-nas de “pedras vigia”. As mais notáveis delas estavam dispostas perto das Travessias do Teiglin, cada uma representando um drúadan, maior que o tamanho natural, agachado com todo o peso sobre um orc morto. Essas figuras não serviam meramente como insultos a seus inimigos; pois orcs as temiam e criam que estavam cheias do rancor dos Oghor-hai (pois assim chamavam os drúedain), e que podiam se comunicar com eles. Portanto, raramente ousavam tocá-las ou tentar destruí-las; e, exceto quando eram numerosos, davam a volta diante da “pedra vigia” e não iam adiante.
No entanto, entre os poderes desse estranho povo talvez o mais notável fosse sua capacidade total de silêncio e imobilidade, que às vezes podiam suportar por muitos dias a fio, sentados de pernas cruzadas, mãos nos joelhos ou no colo, e olhos fechados ou fitando o chão.  Acerca disso relatava-se um conto entre o Povo de Haleth, o qual contarei na próxima postagem.


- Contos Inacabados – Quarta Parte: Os Drúendain

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