Os eldar os chamavam de
drúendain, admitindo-os na classe dos atani, pois forma muito amados enquanto
duraram. Ai deles! Não tinham vida longa e sempre foram poucos, tendo suas
perdas sido pesadas na contenda com os orcs, que retribuíram seu ódio e se
deleitavam em capturá-los e torturá-los. Quando as vitórias de Morgoth
destruíram todos os reinos e baluartes dos elfos e dos homens em Beleriand,
diz-se que haviam minguado, restando apenas algumas famílias, mormente de
mulheres e crianças, algumas das quais foram ter com os últimos refugiados nas
Fozes do Sirion.
Nos tempos de outrora, haviam
sido de grande valia àqueles entre quem viviam, e eram muito requisitados; porém
poucos chegaram a abandonar a terra do Povo de Haleth. Tinham uma maravilhosa
habilidade para seguir a pista de todas as criaturas viventes e ensinavam aos
amigos o que pudessem de seu ofício. Mas seus pupilos não os igualavam, pois os
drúedain usavam o faro como cães, só que também, só que também tinham a visão
aguçada. Gabavam-se de ser capazes de farejar um orc a favor do vento mais
longe do que outros homens conseguiam ver, e podiam seguir seu rastro por
semanas, exceto através da água corrente. Seu conhecimento de todas as coisas
que crescem era quase igual ao dos elfos (porém não ensinado por estes); e
diz-se que, quando se mudavam para uma nova região, em pouco tempo conheciam
todas as coisas que cresciam grandes ou diminutas, e davam nomes àquelas que
lhes eram novas, distinguindo as venenosas e as úteis para a alimentação.
Os drúedain, assim como os demais
atani, não tinham forma de escrita até encontrarem os eldar. Não chegaram mais
perto da escrita, pela sua própria invenção, do que o uso de uma série de
sinais, simples na maior parte, para marcar trilhas ou dar informações e
avisos. No passado remoto, parece que já possuíam pequenos implementos de sílex
para raspar e cortar, e ainda os usavam, pois, embora os atani conhecessem
metais e alguma arte da forja antes de chegarem a Beleriand, os metais eram
difíceis de conseguir e as armas e ferramentas forjadas eram muito custosas.
Mas quando, em Beleriand, pela associação com os eldar e o comércio com os
anões de Ered Lindon, tais objetos se tornaram mais comuns, os drúedain
demonstraram grande talento para o entalhe em madeira ou pedra. Já tinham
conhecimento de pigmentos, principalmente derivados de plantas, e desenhavam
figuras e motivos na madeira ou em superfícies planas de pedra; e às vezes
raspavam nós de madeira para formar rostos que podiam ser pintados. Mas com
ferramentas mais afiadas e mais fortes deleitavam-se em esculpir figuras de
homens e animais, fossem brinquedos e
ornamentos, fossem imagens grandes, às quais os mais habilidosos dentre eles
conseguiam imprimir um vigoroso aspecto de vida. Às vezes essas imagens eram
estranhas e fantásticas, ou mesmo,terríveis: entre as brincadeiras cruéis em
que empregavam sua habilidade estava a feiúra de formas de orcs que punham nas
fronteiras da região, com aspecto de quem está fugindo dali, uivando de terror.
Também faziam imagens de si próprios e as colocavam nas entradas de trilhas ou
nas curvas de caminhos na floresta. Chamavam-nas de “pedras vigia”. As mais
notáveis delas estavam dispostas perto das Travessias do Teiglin, cada uma
representando um drúadan, maior que o tamanho natural, agachado com todo o peso
sobre um orc morto. Essas figuras não serviam meramente como insultos a seus
inimigos; pois orcs as temiam e criam que estavam cheias do rancor dos
Oghor-hai (pois assim chamavam os drúedain), e que podiam se comunicar com
eles. Portanto, raramente ousavam tocá-las ou tentar destruí-las; e, exceto
quando eram numerosos, davam a volta diante da “pedra vigia” e não iam adiante.
No entanto, entre os poderes
desse estranho povo talvez o mais notável fosse sua capacidade total de
silêncio e imobilidade, que às vezes podiam suportar por muitos dias a fio,
sentados de pernas cruzadas, mãos nos joelhos ou no colo, e olhos fechados ou
fitando o chão. Acerca disso relatava-se
um conto entre o Povo de Haleth, o qual contarei na próxima postagem.
- Contos Inacabados – Quarta
Parte: Os Drúendain
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