10/11/2014

O Desastre dos Campos de Lis – Parte IV

Houve uma pausa, embora os dúnedain da visão mais aguçada dissessem que os orcs estavam se aproximando sorrateiros, passo a passo. Elendur foi ter com seu pai, que estava de pé, soturno e sozinho, como que perdido em pensamentos.
- Atarinya – disse – e quanto ao poder que intimidaria essas criaturas imundas e lhes ordenaria que obedecessem a você? Então de nada serve?
- Infelizmente não, senya. Não posso usá-lo. Temo a dor de tocá-lo. E ainda não encontrei forças para dobrá-lo à minha vontade. Para isso é preciso alguém maior do que eu agora sei que sou. Meu orgulho foi-se. Ele deveria ir para os Guardiões dos Três.
Nesse momento soou um repentino toque de trompas, e os orcs se aproximaram por todos os lados, arremessando-se contra os dúnedain com ferocidade temerária. A noite caíra, e a esperança se apagava. Os homens tombavam; pois alguns dos orcs maiores saltavam, dois de cada vez, e, mortos ou vivos, derrubavam um dúnedain com seu peso, de forma que outras garras fortes o pudessem arrastar para fora e matar. Os orcs podiam perder cinco para um nessa permuta, mas ainda saía muito barato. Ciryon foi morto desse modo e Aratan mortalmente ferido em uma tentativa de resgatá-lo.
Elendur, ainda incólume, buscou Isildur. Ele reunia seus homens do lado leste, onde o ataque era mais intenso, pois os orcs ainda temiam a Elendilmir que trazia na fronte e o evitavam. Elendur tocou seu ombro e Isildur se virou feroz, pensando que um orc se esgueirara por trás dele.
- Meu Rei – disse Elendur –, Ciryon morreu e Aratan está morrendo. Seu último conselheiro tem de lhe recomendar, não ordenar, como você ordenou a Ohtar. Vá! Tome sua carga e a leve a qualquer custo até os Guardiães, até mesmo ao custo de abandonar seus homens e a mim!
- Filho do Rei – disse Isildur –, eu sabia que teria de fazer isso, mas temia a dor. Nem poderia partir sem sua permissão. Perdoe a mim e a meu orgulho que o trouxe a este destino.
- Elendur beijou-o. – Vá! Vá agora! – disse.
Isildur voltou-se para o oeste e, tirando o Anel de uma bolsinha que pendia de uma fina corrente em torno de seu pescoço, colocou-o no dedo com um grito de dor, e nunca mais foi visto por pessoa alguma na Terra-média. Mas a Elendilmir do Oeste não podia ser apagada e de repente resplandeceu vermelha e irada como uma estrela em chamas. Os homens e orcs recuaram de pavor; e Isildur puxando um capuz sobre a cabeça, desapareceu noite adentro.
Do que aconteceu aos dúnedain, só isto se soube depois: não demorou muito para que estivessem todos mortos, à exceção de um, um jovem escudeiro atordoado e sepultado sob homens tombados. Assim pereceu Elendur, que mais tarde deveria ter sido Rei, e, como predisseram todos os que o conheciam, em sua força e sabedoria, e sua majestade sem orgulho, um dos maiores, dos mais belos da estirpe de Elendil, o mais semelhante ao seu ancestral.

- Contos Inacabados – Terceira Parte: a Terceira Era – O Desastre dos Campos de Lis

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