01/11/2014

Será que algum dia veremos O Silmarillion nas telonas?

  Em dezembro, com o lançamento de O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos, Peter Jackson finaliza sua trilogia Hobbit – e de uma tacada conclui o que ele vê como uma série de filmes em seis partes. É claro que nós teremos então algumas edições estendidas e posteriormente, provavelmente, um box de DVD que inclua O Hobbit e O Senhor dos Anéis. Mas, depois disso, assim parece, a jornada de Peter Jackson à Terra-média estará finalmente finalizada.
            Contudo, por algum tempo já, fãs têm se perguntado se não há mais algum trabalho de Tolkien que Peter Jackson poderia adaptar para a telona. O Silmarillion, que precede tanto O Hobbit quanto O Senhor dos Anéis, é o projeto que muitos desejam que seja adaptado em filme. Alguns querem múltiplos filmes, outros anseiam por uma série de TV sem fim. Ensaios foram escritos sobre como O Silmarillion seria no formato de trilogia e listas foram compiladas como as 10 razões pelas quais Peter Jackson deve fazer O Silmarillion. Vimos o nascimento de alianças de roteiristas que estão compilando o melhor roteiro possível para O Silmarillion e muitas produções de fãs que ou nos trazem trailers ou mesmo filmes completos.
            A realidade, contudo, é que O Silmarillion provavelmente nunca será filmado. Como Peter Jackson explicou recentemente numa conferência de imprensa na Comic-Con International:
“J. R. R. Tolkien vendeu os direitos cinematográficos de O Hobbit e O Senhor dos Anéis nos anos 60. O Silmarillion ainda não havia sido escrito. Ele nem mesmo foi escrito durante sua vida. Ele foi escrito por ele e, parcialmente, seu filho o terminou após sua morte e o publicou postumamente ao falecimento do Professor. Assim, os direitos de filmagem estão com eles, e os proprietários não têm interesse em discutir direitos cinematográficos com ninguém. Então, esta é a situação. Eles não estão tão desembaraçados quanto O Senhor dos Anéis e O Hobbit.”
            É claro que sabemos que Tolkien começou a trabalhar nas histórias que formariam O Silmarillion em 1914, muito antes de vender os direitos de filmagem de O Hobbit e O Senhor dos Anéis, e escreveu e reescreveu muitos dos contos pelo resto de sua vida. Então, a resposta de Peter Jackson não foi muito precisa.
silmarillion
            Muito antes disso, em 2012, quando perguntado por um fã na Comic Con se ele planejava continuar fazendo filmes relacionados a Terra-média e, mais especificamente, O Silmarillion, Peter Jackson respondeu:
“Eu não acho que a Tolkien Estate tenha gostado daqueles filmes. Eu não acho que O Silmarillion sairá do lugar por um longo tempo.”
            E é verdade, Peter Jackson nunca obterá os direitos de fazer uma adaptação cinematográfica de O Silmarillion, nem tampouco qualquer outro produtor. Diferentemente de O Senhor dos Anéis e O Hobbit, os direitos de filmagem de O Silmarillion nunca foram vendidos e ainda permanecem com a Família Tolkien. Mais ainda, O Silmarillion foi compilado, editado e publicado postumamente por Christopher Tolkien. Dizer que J. R. R. Tolkien o considerava seu maior trabalho e que seu filho Christopher tem uma profunda ligação emocional com esta obra é apenas o início de uma longa história. As chances de se ver O Silmarillion transformado em filme são provavelmente tão remotas quanto ganhar na loteria, mesmo que você decida doar o prêmio a alguma causa nobre.
            Christopher Tolkien tomou para si um trabalho enorme após a morte de seu pai. Depois de se tornar o guardião dos direitos autorais do trabalho de seu pai, ele começou a trabalhar nas 70 caixas de material arquivado deixado por seu pai, cada caixa cheia de milhares de páginas não publicadas. Juntamente com o aclamado escritor de fantasia Guy Gavriel Kay, Christopher colou, editou e expandiu a páginas não datadas nem numeradas, produzindo O Silmarillion em 1977. E isso foi apenas o começo de uma das maiores conquistas literárias da história. Contos Inacabados de Númenor e da Terra-média, uma coleção de histórias e ensaios que nunca foram completados por seu pai, também foi editado e lançado em 1980. Então, por dezoito anos, e com absoluta dedicação em preservar o legado de seu pai, Christopher Tolkien trabalhou na edição do material inacabado remanescente, gradualmente lançando os massivos doze volumes do The History Of Middle-earth. Em 2007, ele lançou a versão completa de Os Filhos de Húrin, a qual foi concebida originalmente por seu pai ao final dos anos 1910 e teve partes publicas antes – n´O SilmarillionContos InacabadosThe Book of Lost Tales e The Lays of BeleriandA Lenda de Sigurd e Gudrún, que foi lançado em 2009, reconta a lenda de Sigurd e a queda dos Niflungs da mitologia germânica. É um poema narrativo composto em versos aliterativos e modelado de acordo com a poesia nórdica antiga do Antigo Edda. Christopher Tolkien forneceu notas e comentários abundantes sobre o trabalho de seu pai. Em 2013, ele lançou A Queda de Arthur, um longo poema narrativo composto por Tolkien no início dos anos 30. Beowulf: A Translation and Commentary o seguiu em maio de 2014, uma tradução em prosa do antigo poema medieval Beowulf do inglês antigo para o moderno, traduzido por Tolkien entre 1920 e 1926, e mais uma vez editado por seu filho Christopher. E então há outros trabalhos como Sr. BlissAs Cartas do Papai Noel, e por aí vai… E nós nem sabemos em que outro livro Christopher Tolkien possa estar trabalhando agora.
            Tendo dedicado a maior parte de sua vida ao trabalho do pai, não é de se surpreender que Christopher seja a maior autoridade em julgar as adaptações cinematográficas de Peter Jackson sobre os trabalhos de seu pai.
            E o que Christopher acredita é que Tolkien agora se tornou um monstro “… devorado por sua própria popularidade e absorvido pela insensatez de nosso tempo”:
“O abismo entre a beleza e seriedade do trabalho e o que ele se tornou me oprimiu. A comercialização reduziu a estética e o impacto filosófico da criação a nada. Há apenas uma solução para mim: virar meu rosto para o outro lado.”
            Levou um tempo bem longo para Christopher Tolkien finalmente nos dar sua opinião – a qual ele deu numa entrevista para o LeMonde, uma das primeiras em quarenta anos. Fica claro que o tratamento terrível que tanto a família quanto a editora de Tolkien foram submetidos ao longo da última década pelos estúdios de cinema finalmente recebeu o que merecia. Tendo cuidadosamente evitado a imprensa e nunca antes expressado uma opinião oficial sobre a trilogia cinematográfica de O Senhor dos Anéis de Peter Jackson, Christopher finalmente irrompeu: “Eles evisceraram o livro transformando-o num filme de ação para jovens de 15 a 25 anos. E parece que O Hobbit será o mesmo tipo de filme.”
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            Ele provavelmente está correto; e a maioria dos que amam seus trabalhos percebem que os filmes, um produto da atualidade, e todos os jogos que os seguiram, são melhor descritos como “fanfics” do que “baseados na obra de J. R. R. Tolkien”.
            Talvez, o Professor Tom Shippey nos tenha dado o melhor resumo da situação no ensaio sobre os filmes de Peter Jackson que foi adicionado à terceira edição de The Road to Middle-Earth. Shippey observa que Jackson “é mais rápido que Tolkien para identificar o mal sem qualificação, e como uma força puramente externa… Há o núcleo aqui de um sério desafio para a visão de Tolkien do mundo, com sua insistência na natureza decaída mesmo dos melhores, e sua convicção de que, enquanto as vitórias sempre valem a pena, elas também são sempre temporárias. E isso poderia, por fim, ser um problema não criado por alguma falha em perceber ´o cerne do original´, mas uma grave e genuína diferença entre as duas mídias diversas e seus ´respectivos cânones de arte narrativa´.”
Fonte:  http://tolkienbrasil.com/artigos/sera-que-algum-dia-veremos-o-silmarillion-nas-telonas/#sthash.91oF94R6.dpuf

#NazgulH

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