11/11/2014

Os Drúendain – Parte I

O Povo de Haleth era estranho aos demais atani, pois falava um idioma alienígena; e, apesar de se unirem a eles em aliança com os eldar, permaneciam como um povo separado. Entre si mantinham-se fiéis a seu próprio idioma, e, embora aprendessem por necessidade o sindarin para se comunicarem com os eldar e os demais atani, muitos falavam essa língua com hesitação, e alguns dentre os que raramente ultrapassavam os limites de suas próprias florestas não a usavam em absoluto. Não adotavam de bom grado objetos ou costumes novos e mantinham muitas práticas que pareciam estranhas aos eldar e aos demais atani, com quem pouco tratavam, salvo na guerra. No entanto, eram estimados como aliados leais e guerreiros temíveis, se bem que fossem pequenas as companhias que mandavam para combater fora de suas fronteiras. Pois eram, e permaneceram até seu fim, um povo diminuto, preocupado, mormente em proteger suas próprias florestas, e destacavam-se no combate nos bosques. Na verdade, por muito tempo nem mesmo os orcs especialmente treinados para essa atividade ousavam aproximar-se de suas fronteiras. Uma das estranhas práticas mencionadas era que muitos de seus guerreiros eram mulheres, apesar de poucas irem a campo para lutar nas grandes batalhas. Esse costume era evidentemente antigo, pois sua chefe Haleth era uma renomada amazona com uma seleta escolta de mulheres.
O mais estranho de todos os costumes do Povo de Haleth era a presença entre eles de um povo de espécie totalmente diversa, tal como nem os eldar em Beleriand nem os demais atani jamais haviam visto. Não eram muitos, talvez algumas tribos, mas em amizade, como membros da mesma comunidade. O Povo de Haleth chamava-se pelo nome de drûg, que era uma palavra de sua própria língua. Aos olhos dos elfos e dos outros homens tinham aspecto desgracioso: eram atarracados (com cerca de quatro pés de altura), mas muito espadaúdos, com nádegas pesadas e pernas grossas. Seus rostos largos tinham olhos profundos com sobrancelhas espessas e nariz chatos, e não apresentavam pêlos abaixo das sobrancelhas, exceto no caso de alguns homens (que se orgulhavam da distinção), que tinham um pequeno tufo de pêlos negros no meio do queixo. Suas feições eram em geral impassíveis, sendo a boca larga o que mais se movia; e o movimento de seus olhos alertas só podia ser observado de perto, pois eram tão negros que as pupilas não podiam ser distinguidas, mas na ira tinham um fulgor vermelho. A voz era grave e gutural, mas seu riso era uma surpresa: era cheio e retumbante, e fazia com que todos que o ouvissem, elfos ou homens, rissem também por seu puro regozijo sem contaminação de zombaria ou maldade. Na paz, frequentemente riam enquanto trabalhavam ou brincavam, quando os outros homens talvez cantassem. Mas podiam ser inimigos inexoráveis. E sua ira rubra, uma vez inflamada, esfriava de vagar, apesar de não demonstrar sinal, exceto a luz em seus olhos; pois lutavam em silêncio e não exultavam na vitória, nem mesmo contra os orcs, as únicas criaturas pelas quais tinham ódio.

- Contos Inacabados – Quarta Parte: Os Drúendain

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